Como se preparar e se proteger contra o coronavírus? No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, já são 30 casos confirmados do novo coronavírus e outros 930 suspeitos até esta terça, 10 de março. No mundo, mais de 110 mil casos confirmados e mais de 4 mil mortes. Diante desse cenário, cresce também a preocupação da população com as formas de se proteger contra a doença. Como no caso de outras infecções por vias respiratórias, como a influenza, mais conhecida como gripe, a prevenção do Covid-19 depende de medidas para evitar o contato com o vírus, como higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel, não compartilhar copos e talheres, distanciamento de pessoas que tossem ou espirram, além da chamada etiqueta respiratória. Dada a forma de contágio, qualquer um está sujeito à infecção pelo novo coronavírus. No entanto, alimentação balanceada, ingestão de água e atividades físicas moderadas, entre outros hábitos para uma vida saudável, também ajudam a enfrentar o vírus. Fortalecer a imunidade não impede o contágio nem cura a doença magicamente. Mas ajuda o sistema imunológico a estar cem por cento pronto para enfrentar o vírus.
Essas recomendações valem não apenas para o Covid-19. Ainda que esse novo subtipo do coronavírus esteja no centro das atenções, não se pode esquecer que outras doenças infecciosas estão ativas no Brasil. Dentre os casos suspeitos de Covid-19 monitorados e descartados pelo Ministério da Saúde, foi observado o aumento de exames positivos para o vírus H1N1, causador da influenza A. Vale um alerta ainda sobre o sarampo, cuja campanha de vacinação acontece até dia 13 de março e que é uma doença que deixa o indivíduo sujeito a infecções por três anos, grave e com transmissibilidade alta. Há mais casos de sarampo do que de coronavírus no Brasil atualmente. Conforme o último boletim epidemiológico do MS, até 8 de fevereiro de 2020, foram confirmados 338 casos, bem como três óbitos ocorridos no Pará, Rio de Janeiro e São Paulo. Outra doença em alta no Brasil é a dengue. Para o sarampo e a gripe, há vacina, e a proteção contra essas doenças evita que se contraia uma virose como a do Covid-19 junto a uma delas, ou logo depois delas, quando o organismo ainda não está recuperado.
Fatores que fortalecem o sistema imune
- Prática de atividades físicas moderadas regularmente. Mas não durante as viroses e infecções em geral, quando elas devem ser suspensas;
- Dieta balanceada e rica em alimentos fonte de antioxidantes;
- Hidratação adequada;
- Vacinação em dia, inclusive para gripe e sarampo;
- Controle do estresse;
- Sono de qualidade;
- Intestino e microbiota saudáveis.
Sabe-se que um estilo de vida saudável favorece o funcionamento do corpo e pode até ajudar a prevenir doenças crônicas. No entanto, a médica imunologista Ana Maria Caetano Faria, consultora Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), explica que não são apenas os sistemas endócrino e nervoso, por exemplo, que têm suas funções otimizadas. Professora titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ela destaca que alguns hábitos saudáveis podem contribuir para a atuação do sistema imunológico em casos de infecções por vírus, bactérias e outros agentes.
– A maneira de manter o sistema imune e o corpo no melhor do seu desempenho é se alimentar corretamente, beber bastante água e praticar exercícios físicos moderados, pois essas práticas estimulam o funcionamento do sistema imune e de outros sistemas do corpo – afirma a imunologista, lembrando que, por outro lado, é preciso dar uma pausa nas atividades físicas durante infecções com quadros de mal-estar e febre, uma vez que é importante deixar todas as reservas de energia do corpo para que as células do sistema imunológico funcionem no seu potencial máximo. – O exercício físico utiliza energia adicional do corpo e não ajuda nesse momento.
Alimentação e imunidade
Alimentos aliados:
- Frutas: o limão e a laranja contam com grande quantidade de vitamina C, assim como acerola, goiaba, mamão e tangerina, também conhecida como mexerica e bergamota, em algumas partes do país. Mas há outras opções ricas em antioxidantes e nutrientes que favorecem o sistema imunológico. É o caso das frutas vermelhas, como morango, amora, mirtilo, groselha, goji, cereja, açaí e jabuticaba;
- Fontes de ferro: consumo de alimentos como carnes e vegetais verde-escuros ajudam na absorção da vitamina C;
- Vegetais: além de contarem com uma variedade de nutrientes e vitaminas do complexo B, são fontes de fibras, colaborando para uma microbiota intestinal saudável;
- Peixes de águas profundas: salmão e sardinha, por exemplo, são ricos em ômega 3 e ácidos graxos insaturados, que também contam com ação anti-inflamatória e auxiliam na homeostase do sistema imune;
- Probióticos: é o caso das bactérias benéficas disponíveis em iogurtes e também no kefir e na kombucha;
- Prebióticos: alguns dos mais importantes são as fibras alimentares presentes em leguminosas, frutas e grãos, farinhas e farelos integrais;
- Própolis e cúrcuma: esses alimentos são potencialmente anti-inflamatórios e estudos apontam evidências de que auxiliam no funcionamento do sistema imune.[
Sinal vermelho:
- Frituras;
- Doces e bolos;
- Salgadinhos, biscoitos e produtos industrializados e ultraprocessados em geral.
Conforme a nutricionista Juliana Lima, há uma inversão na concepção de que há maneiras de aumentar a imunidade. Estudante do doutorado do Programa de Bioquímica e Imunologia da UFMG, ela argumenta que, no contexto de uma vida saudável e quando não há quadros como imunodeficiências genéticas, o sistema imune é robusto e preparado para enfrentar os desafios de infecções. Porém, o estilo de vida ocidental moderno, marcado por sedentarismo, estresse constante e alimentação e sono inadequados, não permite que o sistema imune funcione de forma ideal. Em relação à alimentação, especificamente, é preciso fugir, por exemplo, aos produtos industrializados ultraprocessados, como salgadinhos e biscoitos recheados.
– Devemos evitar a dieta chamada ocidental, que é composta de alimentos com um perfil pró-inflamatório, como aqueles ricos em ácidos graxos saturados, carboidratos simples e sódio. Tais alimentos devem ser substituídos por aqueles mais naturais, que não sejam industrializados, e ricos em nutrientes importantes, como os presentes em frutas, vegetais e peixes de águas profundas. Esses alimentos possuem atividades anti-inflamatórias importantes e auxiliam na homeostase do sistema imune – detalha a nutricionista.
Quando se pensa em imunidade, há quem lembre logo da vitamina C. Não que ela não seja importante para estar presente nas refeições no dia a dia ou em suplementações, dependendo da prescrição médica. Mas a médica nutróloga coordenadora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) Marcela Voris comenta que é preciso uma alimentação balanceada e rica em antioxidantes, incluindo a vitamina C. A nutróloga explica que, dessa forma, a pessoa estará mais preparada para lutar contra qualquer tipo de infecção. Contudo, Voris observa que, mesmo ao adotar uma dieta e hábitos saudáveis, os indivíduos podem estar sujeitos a infecções.
– Se a pessoa se alimenta bem, tende a ter uma imunidade melhor, porém inúmeros fatores influenciam. Se já tem um vírus latente, como um herpes vírus, mesmo que se alimente bem, se está passando por uma situação de estresse ou se pegar muito sol, ele pode se manifestar – exemplifica a médica da Abran, acrescentando que, mesmo quando a imunidade baixa, manter uma alimentação balanceada pode ajudar a garantir uma reserva de vitaminas e nutrientes para melhor responder a infecções.
De acordo com a médica nutróloga, de uma forma geral, as frutas cítricas e aquelas chamadas vermelhas, fontes de antioxidantes, e vegetais verde-escuros, ricos em ferro, por exemplo, são recomendados para fortalecer o sistema imunológico. Todavia, Voris afirma que dieta deve ser balanceada e personalizada conforme as necessidades do indivíduo e seu estado de saúde. Para tanto, é preciso uma avaliação médica, a fim de conhecer os micro e macro nutrientes indicados individualmente, além de suporte de nutricionista para montar o plano alimentar.
– A gente é o que a gente come e absorve. Nem tudo com o que nos alimentamos conseguimos absorver realmente. Então, primeiramente, precisamos ter um intestino saudável para conseguirmos absorver o que comemos e suplementamos, para que esses nutrientes realmente tenham um efeito positivo – informa Voris.
A médica imunologista acrescenta que diversos estudos demonstram que o desequilíbrio na composição da microbiota intestinal, quando há o crescimento de algumas bactérias em detrimento de outras, está associado ao desenvolvimento de várias doenças. É o caso de alergias, diabetes, obesidade, autismo e problemas inflamatórios do intestino e cardiovasculares. Porém, segundo observa Faria, a imunidade anti-infecciosa também depende do equilíbrio da microbiota.
– Ela interfere com a função imunológica. A alimentação saudável auxilia na manutenção de uma microbiota balanceada e o uso de probióticos, bactérias e leveduras com função benéfica, e prebióticos, alimentos que estimulem o crescimento de bactérias benéficas, também é recomendado para tentar corrigir as possíveis interferências nesse balanço – explica a imunologista.
Dicas
- Primeiramente, não se apavore com a circulação do coronavírus. Para prevenir o contato com vírus, procure higienizar as mãos, seja com água e sabão com álcool gel, e evite tocar as mucosas de olhos, nariz e boca. Mantenha ainda uma distância de pessoas que esteja espirrando ou com tosse, uma vez que o contágio, não apenas do Covid-19 como também outras infecções virais, se dá pelo contato de gotículas com as vias respiratórias. Lembrando que o uso de máscaras é recomendado apenas para quem teve diagnóstico, dado que o seu uso por indivíduos saudáveis não previne infecções;
- Fique em dia com as imunizações, que são uma forma de proteger o sistema imunológico. Ainda não existe vacina contra o coronavírus. Porém, considerando as semelhanças entre os casos de gripe e Covid-19, que também se manifesta por sintomas como tosse, febre, falta de ar e perda de apetite, o Ministério da Saúde antecipará o início da Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza para o dia no dia 23 de março. A ideia é reduzir a quantidade de pessoas com gripe no inverno que se aproxima. Além disso, assim, será possível ajudar os profissionais de saúde a descartar quadros de influenza na triagem dos pacientes com suspeita de Covid-19. A recomendação é que, em quanto durarem os estoques, todos os indivíduos procurem unidades de saúde próximas para se vacinarem, e não apenas o público mais vulnerável à influenza, como gestantes, crianças até seis anos, mulheres até 45 dias após o parto, idosos e portadores de doenças crônicas.
- Consulte um médico para ter orientações segmentadas sobre o consumo de vitamina C, seja por meio da alimentação ou de suplementos. Indivíduos mais debilitados podem demandar suplementação, incluindo associada a zinco, componente essencial de várias moléculas, que também está envolvido na sobrevivência, proliferação e diferenciação das células imunes. Pessoas que fazem atividades físicas, por sua vez, dependendo o seu quadro, podem precisar de vitamina C com colágeno;
- Faça uma alimentação balanceada para um bom funcionamento do organismo e também do sistema imunológico. É preciso uma dieta que equilibre proteínas, gorduras, carboidratos, antioxidantes, vitaminas e fibras. Converse com o seu médico e consulte nutricionista para definição de um plano alimentar individualizado;
- Pratique atividades físicas moderadas regulamente. O sedentarismo também compromete o sistema imunológico. A Organização Mundial da Saúde recomenda a 150 minutos semanais de atividades leves a moderadas para melhorar a saúde;
- Hidrate-se. Em média, são recomendados dois a três litros de água diariamente, dependendo de fatores como peso e rotina de exercícios físicos;
- Adote medidas para controle do estresse, que contribui para o aumento dos radicais livres. É indicado a recorrer a atividades como meditação, esportes e até um hobby;
- Tenha um sono de qualidade.
Mitos
A seguir, o EU Atleta, com o apoio das profissionais consultadas, destaca alguns mitos quando o assunto é alimentação e imunidade.
- Tomar vitamina C é bom para gripes e resfriados. MITO
Em caso de infecções por vírus como o Covid-19 e outros causadores de gripes e resfriados, reforçar o seu consumo não encurtará a recuperação. A vitamina C presente em alimentos e suplementos não cura infecções. Essa ideia é um mito. Então, não adianta correr à farmácia para comprar aqueles medicamentos dispersíveis ou tomar muito suco de laranja quando já se está com gripes e resfriados.
Antioxidante importante, a vitamina C está envolvida na função do sistema imunológico. Ela atua tanto no recrutamento de células imunes para os locais de infecção como em suas ações anti-infecciosas. Além disso, protege os tecidos do corpo humano de danos excessivos causados pelas respostas imunes. No entanto, para ter esses benefícios, o seu consumo precisa ser regular. Ademais, quando ingerida em grandes quantidades, pode não ser absorvida e acabar excretada pelos rins.
De acordo com o sistema de recomendações nutricionais da Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos, o Dietary Reference Intakes (DRI), são indicados, nessa ordem, 90 mg e 75 mg de vitamina C diários para homens e mulheres. Essa dosagem corresponde a dois limões ou uma laranja por dia. Contudo, estudos demonstram que o consumo de 200 mg/dia a, no máximo, 500 mg/dia pode promover benefícios para o funcionamento do sistema imune e auxiliar na prevenção de infecções, principalmente aquelas respiratórias. Superar esse valor máximo, ainda que não seja tóxico, não resulta em aumento das funções anti-infecciosas de células imunes.
- Cortar alimentos com glúten e lactose fortalece o sistema imune. MITO
Esse é um mito muito difundido atualmente. Para que haja um balanço e esse sistema funcione corretamente, a alimentação deve ser equilibrada. A retirada de alimentos da dieta deve ser recomenda por médico ou profissional de saúde somente quando há necessidade real e comprovada para tanto. No caso do glúten, deve ser excluído da dieta de pacientes celíacos ou com intolerância, enquanto pessoas alérgicas à proteína do leite, por exemplo, precisam cortar os laticínios da alimentação. Em outros casos, excluir esses alimentos do dia a dia pode causar um desequilíbrio no sistema imune do indivíduo.
Por Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales